sábado, 11 de dezembro de 2010

Escolhas...

A última coisa que pensei antes de virar as costas para minha casa e sair correndo, foi que eu precisava ver minha avó antes de partir.
Eu adoro visitá-la, no caminho vou arrancando uma florzinha que voa quando assopro, minha avó diz que se chama dente de leão, mas eu não entendo o porquê desse nome, então coloquei o nome de algodão do vento.
Mas hoje não vou assoprá-las não, tenho pressa em chegar e não posso demorar pelo caminho.
A casa da minha avó vai surgindo ao longe, pequenina, com uma fumaça subindo pela chaminé. De longe sinto o cheiro de bolo de fubá, mesmo que a essa distancia não seja possível senti-lo.
Acelero o passo, paro na porta ofegante, quando ela se abre quase que sozinha, e de trás dela vejo minha avó, ela sempre guarda um sorriso gostoso pra mim, e eu a abraço forte, sabendo que talvez seja a ultima vez que eu faça isso.
Ela me convida para entrar, manda eu me sentar na mesa da cozinha enquanto ela passa o café.
Ela tá meio quieta hoje, será que já sabe de alguma coisa?
Espero que não.
Eu a observo, e me pergunto por que o tempo deixou tantas marcas nela, cada risco no rosto, cada marca na pele, vejo que as mãos dela tremem enquanto entorna a água quente, sou tomado por um cheiro forte e logo ela trás uma xícara fumegante de café. Preto e Amargo.
- Meu filho você está inquieto?
Dou um pulo da cadeira e  quase derramo o café.
- Daqui consigo ver o café formar ondas em suas mãos.
Ela se levanta devagar e diz: - Meu filho, sei que não está bem, mas a vovó já passou por muita coisa nesta vida e sabe que nada do que você está passando pode ser maior do que está por vir. Então, vou te dar um presente para que você anote todos seus sentimentos e um dia quando lê-lo irá se lembrar de minhas palavras.
Enquanto ela andava sua voz foi sumindo pelo corredor adentro, ela tem sempre essa mania de me deixar intrigado, a minha curiosidade não deixa que eu fique muito tempo sentado aqui esperando, corro em direção aos fundos da casa, quase esbarro em suas pernas, quando consigo frear no último instante.
- Calma menino, não precisa ter pressa, não importa velocidade que você ande, se o seu destino é chegar em algum lugar você vai chegar mesmo que demore!
Ela e essa mania de falar em código.
- Senta aqui.
O sofá é coberto por uma manta, e num relance me recordo das tantas vezes que eu adormeci aqui.
Ela me entrega um embrulho, um tanto empoeirado, tem uma fita com um nó cego. Seguro por uns instantes.
- A primeira escolha, meu filho, é abri-lo.
A fita parece fraca de tanto tempo que ficou guardada mas, o papel e firme como tecido e demoro um pouco para rasgá-lo.
A capa diz: "A vida é feita de escolhas", me interesso pelo título de imediato, mas quando folheio o livro até a última página, ele está todo em branco. Olho para minha avó sem entender, e vejo que ela tem um sorriso escondido nas marcas da face.
- Agora vai, e segui teu caminho.
Não sei se corro, se choro se dou um abraço nela, escolhi a primeira opção. Disparo numa corrida sem sentido, até que chego na estação de trem.
Minha respiração é inconstante, quando o trem pára na estação.
Embarco em busca de algo que inda nem tenho certeza.......

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