sexta-feira, 29 de julho de 2011

Fantasmas


Mais uma vez o espaço intocado inflama entre as frestas.
O peso da lembrança latente.
A certeza de que nada mais importa, de que tudo que vivemos foi único, não pela importância e sim pela individualidade.
Nas linhas do ódio me deixou, sem se preocupar com as consequências de tal ato.
O silêncio que se fez selou o fim inacabado.
E as palavras presas no fundo da alma agora se debatem ferindo as paredes da memória.
Aos montes se acertam e suicidam-se na esperança de tomarem forma.
Te desprezo pela ausência, vacilo nas palavras e sou vencida por puro sentimento.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Borboletas - Parte 4


Sempre achei que bares não são os melhores lugares para se afogar as mágoas.
E no fundo, no fundo eu sempre estive certa.
Estou me sentindo nauseada, mas sei que não foi o uísque que me deixou assim, foram aqueles olhos, que descobri mirando em minha direção.
Eles me queimavam quanto mais se aproximavam, nadando entre as muitas cabeças em minha frente. Num impulso, sem sentido eu fugi.
Ainda escuto o som abafado da música lá dentro, a letra me fez lembrar o real motivo de estar aqui. A raiva mais uma vez me transpassa, sinto como se fosse atingida por um soco no estômago. Lembranças da visão de horas atrás passam sorrateiramente em meus pensamentos.
Arranquei com o carro. O bar ficou para trás, juntamente com os olhos que me embriagaram.

Matt
A garota parecei não estar com os pensamentos nesta mesma galáxia.
Ela saiu do bar da mesma forma que entrou, feito um furacão.
Poderia jurar que estava fugindo de alguém.
Quando percebi estava seguindo o seu carro vermelho, que disparado seguia pela avenida principal.
Eu sei que é loucura, mas no momento nada é mais importante do que a vontade de tocar aquela pele.
Quase perdi o controle quando numa curva fechada o carro dela desapareceu.
Por um segundo pensei que nunca mais iria encontrar aquele olhar.
Em uma rua movimentada, vi o carro dela entrar na garagem de um prédio. Estacionei o carro do outro lado da rua e decidi esperar até que uma das luzes apagadas lá em cima ascendesse.
Passaram-se dez minutos, e ao invés da luz, eu a vi na sacada da cobertura. Os cabelos esvoaçantes e o olhar em algum ponto do horizonte.
Só agora me dei conta de que eu nada sei nada sobre essa mulher que me hipnotizou, alias agora eu sei onde ela mora, pode ser um começo.
Fiquei ali observando sem ter noção do tempo, até que sem aviso ela entrou na escuridão do apartamento.
O relógio do carro marcava 3:25, ainda observava a sacada na esperança de que ela voltasse.  Uma movimentação na portaria do prédio roubou minha atenção.
Ela trocou de roupa, usava uma blusa branca, calça jeans, os cabelos antes revoltos agora estavam presos em rabo de cavalo.
Mais uma vez na mesma noite eu me vi seguindo uma desconhecida e sem noção alguma de onde ela estaria indo.
Não demorou muito ela entrou num café 24 horas. A atendente parecia feliz em vê-la, à recebeu com um sorriso largo e um abraço apertado.  
Enquanto as duas pareciam colocar os assuntos em dia, entrei no café, intimamente desejando ser invisível.
Ainda não tinha parado para pensar qual seria a reação dela ao me ver pela segunda vez na mesma noite.
Escolhi a mesa mais escondida e mal localizada do café, logo a mesma moça veio me atender.
Com o mesmo sorriso simpático, porém não recebi o abraço apertado.
- Boa Noite! Qual é o seu pedido?
Ela segurava uma caderneta e uma caneta que parecia ter urgência em anotar o pedido para ir atender o próximo cliente.
- O mesmo que o da moça de branco. – Respondi. 
Ela correu os olhos nas mesas e eles pareceram aumentar de tamanho quando pousaram nela. Gaguejou para responder, mas não questionou o pedido. Apenas disse: - Si Sim, Senhor.
Voltei a atenção para minha fugitiva, parecia mais relaxada. Agradeci a algum ser superior por estar tão perto mais uma vez.
O pedido não demorou e logo depois de ver serem servidos na mesa dela um grande copo de café acompanhado de mini pãezinhos, um pedido idêntico repousou na minha mesa.
A pergunta que não quer calar é como vou falar com ela, sem que ela fuja novamente?